Os psicanalistas, Freud e Lacan, possuem uma mesma ideia quando o
assunto é Psicanálise e Religião, ambos partem da ideia de que ao ser humano
falta algo e que dificilmente seu desejo é completo e realizado. Portanto o
sujeito acaba sendo limitado, faltoso e finito. A Psicanálise, observando esse
sujeito, nos faz pensar na religião enquanto aquilo que oferece o complemento
desta falta estabelecida do sujeito. Percebendo o desejo como impossível de ser
satisfeito completo e permanentemente, a religião, acaba sendo um convite à
ilusão da estabilidade da completude. A religião, então acabou sendo
relacionada à salvação, a incansável busca por um ser completo e consistente
com si. Essa ideia de Deus nos mostra um Outro que nos protege da necessidade
de amparo, da situação de impotência.
Segundo Tarcisio Andrade, a religião era vista por Freud como uma
manifestação neurótica, uma neurose conjunta, a obsessão, então, é a religião
particular do neurótico. Podemos compreender então que, se de um lado nos
apegamos à religião como meio de defesa do conflito neurótico, por outro
podemos encontrar na religião um campo que favorece para uma neurose ou
psicose. A partir dessa ambiguidade, podemos deixar referir a experiência
religiosa à causa de uma neurose, transferindo-a para o sujeito, no qual a
organização psíquica já frágil encontra na religião a resposta ao seu desamparo
fundamental. Ao tratarmos a religião como a causa de uma neurose, retiramos a
responsabilidade do sujeito por seu próprio sintoma, da mesma forma que ao
buscarmos na religião um encontro com Deus, sugere deixar de assumir minha
própria indeterminação, para me alienar na figura do outro.
O ser humano sempre procurou compreender o mundo ao seu redor buscando,
para isso, a diversos Deuses. Isso porque, o homem não pode conhecer-se sem se
referir a uma alteridade, ao Outro, ao além. Para a Psicanálise, o sujeito
busca esta forma de crença no Outro plenamente consistente, que suponhamos
possuir todo o saber faltoso para o sujeito, saber este que é capaz de nos dar
o porquê e o como de nosso sofrimento, tornando-o assim nítido nosso destino. A
Psicanálise, sempre observando o dinamismo cultural, se manteve no meio do
debate em relação às modificações realizadas pela modernidade e as suas novas
maneiras de representação do sujeito. Assim novas perspectivas em relação à
religiosidade são oferecidas pela Psicanálise e pela Teologia.
Para Freud, “a religião é a neurose obsessiva
universal” (Freud, 1907, p. 109), o que mostra que a religião busca
obsessivamente a figura do pai idealizado da infância. Partindo dessa ideia de
que a crença em Deus é a busca por essa figura paterna, onde se tem a garantia
de segurança e proteção, por outro lado, o choque da realidade nos liberta de
um Pai distante, que afeiçoa por sacrifícios.
Referências:
FURTADO, Odair; BOCK, Ana Mercês Bahia; TEIXEIRA, Maria de Lourdes
Trassi. Psicologias: Uma Introdução ao
Estudo de Psicologia - (O que é
Psicanálise? Cap. 5)
ANDRADE, Tarcisio. Psicanálise e
religião/Psychoanalysis and religion.
SILVA, Oliver
Schmidt. Psicanálise e a Religião:
algumas contribuições.
Freud, S. (1907). Acciones
obsessivas y practicas religiosas. In: Obras completas. Buenos Aires:
Amorrortu, 1976, p. 109.
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